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Dólar Salta para R$ 5,46: Ata Cautelosa do BC e Dados Fortes dos EUA Invertem o Jogo
Resumo:Por volta das 12h21, o dólar à vista operava com uma alta firme de 0,74%, cotado a R$ 5,463 na venda. O contrato futuro para janeiro, o mais líquido na B3, também subia, registrando alta de 0,43%, aos R$ 5,456. Este movimento interrompeu a valorização do real vista no dia anterior e recolocou o par USD/BRL em uma zona de tensão, enquanto investidores recalibram suas expectativas para a política monetária tanto no Brasil quanto no exterior.

Publicado em 16/12/2025
Após uma sessão de alívio na segunda-feira, o dólar retomou sua trajetória de alta frente ao real nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, em um movimento que refleteu uma mudança brusca no sentimento do mercado. Dois vetores principais se combinaram para pressionar a moeda brasileira: a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que adotou um tom mais cauteloso do que muitos investidores esperavam, e dados de emprego nos Estados Unidos que vieram mais fortes que as projeções. Por volta das 12h21, o dólar à vista operava com uma alta firme de 0,74%, cotado a R$ 5,463 na venda. O contrato futuro para janeiro, o mais líquido na B3, também subia, registrando alta de 0,43%, aos R$ 5,456. Este movimento interrompeu a valorização do real vista no dia anterior e recolocou o par USD/BRL em uma zona de tensão, enquanto investidores recalibram suas expectativas para a política monetária tanto no Brasil quanto no exterior.
O primeiro grande catalisador da alta cambial veio de dentro do próprio Banco Central do Brasil. A ata da última reunião do Copom, divulgada na manhã desta terça-feira, enviou um sinal claro de que o ciclo de cortes da taxa Selic não está tão próximo quanto parte do mercado precificava. O documento apontou os ganhos gerados pela “condução cautelosa” dos juros, vendo uma contribuição determinante da política monetária para a desaceleração da inflação, e enfatizou o firme compromisso com a meta de inflação de 3%. A leitura feita por analistas foi de que o BC está disposto a manter os juros em patamar restritivo por mais tempo, preferindo aguardar a consolidação de mais dados econômicos antes de qualquer movimento de afrouxamento. Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, avaliou que a ata adotou um tom cauteloso ao afastar, por ora, o início do ciclo de cortes. Essa postura, embora preserve o diferencial de juros atrativo do Brasil, pode reduzir o apetite por ativos de risco locais, como ações, e introduzir uma dose de incerteza que pesa sobre o real. Lauro Sawamura Kubo, da Patagônia Capital, reforçou essa visão, indicando que as projeções de cortes mais rápidos foram postergadas, com um início possivelmente apenas no final do primeiro trimestre ou início do segundo de 2026.
No mercado de renda fixa, a reação foi imediata. As taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) reagiram em alta, refletindo um ajuste nas apostas dos agentes. Parte do mercado vinha precificando um corte da Selic já na reunião de janeiro, mas a mensagem da ata sugere que esse cenário se tornou menos provável. Atualmente, a Selic se mantém em 15% ao ano, sua quarta manutenção consecutiva, enquanto a taxa básica dos Estados Unidos (Fed) está na faixa de 3,50% a 3,75%. Embora este diferencial de juros colossal continue a ser um pilar de atração para capitais estrangeiros, a perspectiva de que ele possa se reduzir mais lentamente do que o esperado trouxe um elemento de cautela adicional para os fluxos de curto prazo, beneficiando momentaneamente o dólar.
Quase em uníssono com a divulgação da ata, chegaram do exterior os aguardados dados do mercado de trabalho norte-americano (payroll) referentes a novembro. Os números surpreenderam em terreno positivo: a economia dos EUA criou 64 mil novas vagas de trabalho, um resultado acima das 50 mil vagas projetadas pelo consenso de analistas. Por outro lado, a taxa de desemprego subiu para 4,6%, também acima da expectativa de 4,4%. A leitura de um mercado de trabalho ainda criando empregos acima do esperado, mesmo com a taxa de desemprego em elevação, reforçou a percepção de que a maior economia do mundo mantém certa resiliência. Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, esta moderação no mercado de trabalho não deve alterar o plano do Federal Reserve (Fed) no curto prazo. “Os dados dos últimos meses apontam para um mercado de trabalho em moderação, mas a inflação segue pressionada. Depois dos três cortes realizados desde setembro, os juros agora estão dentro do intervalo das estimativas do nível neutro, o que deixa o Fed em uma posição mais confortável para esperar, observar os dados e só então decidir os próximos passos. Nesse contexto, um novo corte de juros em janeiro nos parece pouco provável”, afirmou. Este cenário de juros americanos estáveis por mais tempo ofereceu suporte adicional ao dólar em nível global, que encontrou forças para se recuperar após as fraquezas da véspera.
O cenário doméstico brasileiro, por sua vez, continuou a oferecer um pano de fundo misto. Na segunda-feira (15), o dólar comercial havia fechado em queda de 0,8%, valendo R$ 5,4148, após a divulgação de um Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) fraco para outubro. Esse dado, que mostrou uma queda de 0,2% na atividade, reforçou a percepção de desaceleração econômica no país. No entanto, o mercado manteve sua projeção de câmbio para o fim de 2025 em R$ 5,40, sinalizando uma expectativa de estabilidade no médio prazo, sem uma deterioração aguda. Apesar disso, outros fatores internos ganharam destaque. Dados apontam que a concessão de crédito rural caiu 16% no primeiro semestre de 2025, reflexo de inadimplência mais alta e critérios ambientais mais rígidos. Esse recuo limita a capacidade de investimento do crucial setor do agronegócio, podendo pressionar ainda mais as expectativas de crescimento econômico para o próximo ano. A combinação de atividade fraca e crédito mais restrito cria um ambiente que, em tese, justificaria cortes de juros, mas a prioridade do BC no combate à inflação, expressa na ata, parece estar falando mais alto no momento.
No front da inflação, há um contraponto positivo. O mercado revisou para baixo sua projeção para o IPCA em 2025, agora estimado em 4,36%, valor que permanece dentro do teto da meta do Banco Central (4,5%). Esta revisão reforça o cenário de desinflação gradual conquistada pela política de juros altos. No entanto, o BC manteve sua postura cautelosa, claramente temendo que uma mudança de rumo prematura pudesse desancorar as expectativas inflacionárias e comprometer os ganhos duramente obtidos. Para o câmbio, o juro elevado continua a ser um importante amortecedor, atraindo fluxos de capital externo que sustentam o real. Contudo, o enfraquecimento da atividade econômica acaba por limitar o potencial de valorização mais forte da moeda brasileira, criando um campo de batalha onde forças opostas – juros altos versus crescimento baixo – disputam a direção do dólar.
Em outras frentes corporativas e geopolíticas, notícias trouxeram certo alívio, mas sem afetar significativamente o câmbio no dia. A Petrobras informou que a greve de seus trabalhadores não afetou a produção de petróleo e derivados, graças a planos de contingência, reduzindo riscos imediatos sobre o abastecimento e preços. No cenário internacional, as preocupações com o acordo Mercosul-União Europeia persistem, após o Parlamento Europeu aprovar salvaguardas que podem limitar as exportações agrícolas do bloco sul-americano. Embora diplomatas brasileiros mantenham otimismo, o ruído geopolítico é mais um fator de aversão ao risco de longo prazo que pode, eventualmente, impactar o real.
No mercado internacional de divisas, o índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de seis moedas fortes, apresentava um comportamento ambíguo, caindo 0,17% para 98,098 pontos por volta das 9h54, antes da divulgação do payroll. Esse movimento indicava uma pressão vendedora generalizada sobre a moeda americana. No entanto, o dólar demonstrava força seletiva, cedendo ante pares como o peso chileno e o peso mexicano, mas avançando com vigor contra o real. Essa divergência sublinha como os fatores domésticos específicos do Brasil – principalmente a ata cautelosa do Copom – foram decisivos para a performance negativa do real nesta sessão, isolando-o do movimento de valorização de outras moedas emergentes.
Em resumo, a alta do dólar para além de R$ 5,46 em 16 de dezembro de 2025 é um exemplo claro de como o câmbio é sensível a expectativas sobre política monetária. A comunicação do Banco Central brasileiro, ao sinalizar que os juros vão ficar altos por mais tempo, mesmo diante de uma economia em desaceleração, redefiniu o timing esperado para o alívio monetário. Esse reposicionamento, combinado com dados de emprego resilientes nos EUA que reduzem a urgência por novos cortes do Fed, criou um ambiente quase perfeito para uma correção de alta do dólar. A semana segue crucial, com a divulgação do Relatório de Política Monetária do BC e da inflação americana na quinta-feira. Enquanto isso, o real enfrenta o dilema de ser sustentado por um diferencial de juros ainda muito atrativo, mas pressionado pela cautela do BC e pela fragilidade da atividade econômica doméstica. A projeção de câmbio estável em R$ 5,40 para o fim do ano permanece, mas o caminho até lá promete ser marcado por uma volatilidade elevada, à medida que cada nova palavra das autoridades e cada dado econômico são minuciosamente dissecados pelo mercado.

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